terça-feira, 30 de abril de 2013


"Desconfio que a minha falta de paciência flui feito água de biqueira rumo aos novos amores. Sei lá, ando sem um pingo de inspiração para começos afetivos que tanto exige da gente. Logo, quero me livrar da obrigação de um novo amor. Novo amor cheira a decorar tipos e jeitos com sorriso comprazido, quase angelical. Novos amores surgem solicitando invenções de nomes, fazer esforços para gostar das coisas mais loucas, tipo jogar milhos aos pombos revoltosos com sol a pino nos feriados. Conciliar entre meu espírito aventureiro e a alma folgada do novo amor que adora ficar em casa preparando um churrasco para os amigos em pleno domingo. Novos amores exigem o mais absoluto equilíbrio e a companhia singela das canções que não foram feitas pra mim. Calculo que por sorte a gente encontra alguém que combina as metáforas, mas até lá fico desanimada em fazer as tentativas e acumular amores clássicos com lágrimas e xingamentos, resultados do abandono. Meu passado e o de todas as minhas amigas é uma espécie de diário do desespero e lembranças enfastiadas, conexão das pisadas e revezamento da solidão. Sei não, mas não ando animada para nova sogra. Isso é como andar em planetas estranhos, esperando cruzar com outras órbitas e desintegrar-se na apatia dos finais tão rápidos que a gente nem desejou. Novo amor é aquela tortura de comemorar datas sem saber se elas vão durar até o amanhecer. Grafar o direito de absorver uma felicidade medrosa até que o sujeito descubra que a gente é ciumenta, impaciente e ainda passa duas horas no cabeleireiro fazendo chapinha que dura apenas meia hora após um carinho mais próximo.  Fico nessa contramão, reconhecendo que é bom amar e melhor ainda é não ter uma tonelada de canções para ficar choramingando, quando a gente por acaso descobre que o amor era uma brincadeira de ser feliz.  Sei lá, não sou mais receptora das pernas bambas, as mãos frias e a cobiça pelo garotão que mais tarde irá arrancar uma porção de resmungos e marcas no rosto, simplesmente porque resolveu chafurdar meu coração. Abrir espaço para um novo visitante exige um começo personalizado de carinhos, apresentação de minhas áreas sem lacre, com muito cuidado para que as divergências não fiquem expostas. Talvez eu não esteja tão propicia a conhecer e me acostumar com as esquinas do outro. Talvez eu esteja numa fase ímpar e as edições limitadas de romances com cheiro de gente nova e uma cartilha de lições, causa sintomas de difícil compreensão para o meu atual estado de liberdade. Poderia dizer que meu edredom nos últimos meses só suporta o meu cheiro." 


Ita Portugal

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