Oi, eu queria te dizer de como os dias têm sido esse peso, como se houvesse um mundo amarrado em cada um dos meus pés. Um mundo composto de saudade, medos, perdas e sombras. Um mundo de coisas que pairam sob a camada etérea dos olhos. Nada é um balão. Alguém já disse isso? Disse sim. Foi o Lulu que compôs um verso parecido pra dizer que a vida quase sempre pesa. Ser leve, estar leve é um presente e eu há muito tempo não sei compor tais delicadezas. Eu sei que você me entende, mesmo estando longe, porque a nossa pele já doeu tanto em tantas tardes de sacada e brincadeiras e traições e doer junto é um elo que nunca morre. Ali vida passava e era tudo claro e ameno, lembra? Eu não me esqueci.
Eu já te contei que estou tomando fluoxetina? O mal do século me pegou. O mal do século é esse peso das horas aniquilando esperanças. Eu ando tão regredida. Eu ando tão esquecida. Eu ando tão desinspirada. [...] Há um peso ao redor. Eu sinto. O ar é denso e eu o engulo, seco, difícil. Hoje eu sinto espasmos incômodos nos dedos das mãos e tenho prazo de validade. Hoje eu só queria não acabar. Onde é que em mim se fabricam os suspiros? E os voos? Eu me esqueci. Quanto custa uma passagem para... perto? (de ti, de mim, de algum sorriso) Ou para bem longe? ... Pode ser de balão. Mas... olha só, eu me esqueci:
Nada é um balão.
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